Pequei 70x7

Setenta vezes sete será, provavelmente, o algoritmo mais conhecido do mundo ocidental. Alude a uma eventual troca de palavras entre Pedro e Jesus, em que o primeiro pergunta ao segundo quantas vezes deverá perdoar alguém. O segundo, presumível mestre do primeiro, retorque que deverá absolver setenta vezes sete. Sabendo que o produto de setenta por sete é, apenas, quatrocentos e noventa, fica a ideia que um simples humano esgotaria o stock de perdões e/ou pecados de forma muito célere. Ambos possuem uma relação biunívoca. À época quatrocentos e noventa seria, talvez, um valor considerável. 

Adrian Brouwer, autor belga.
Eu pequei mais que setenta vezes sete. Pequei, porque não quis saber de copos, bebi amiúde vinho servido pelo jarro. Peguei em taças, levantei, por mais que uma vez, o jarro atestado com omnipresente vinho da casa e brindei incessantemente despido de quaisquer tretas ou porras finórias. Bebi repetidamente. Engoli ao balcão, acompanhado por um pires de uma coisa qualquer, desembuchei à mesa com valentes tragos de afamados vinhos indiferenciados, provavelmente vindos do pacote, de um velho e decadente barril ou da ultra-moderna e urbana box.

Adrian Brouwer, autor belga.
Actos de liberdade, quiçá provocatórios, de não querer saber o quer que seja. Que se lixe, pensei repetidamente, não quero saber, insisti. Desde que viesse fresco, bem gelado e adamado. Pequei mais que 70x7, mas não peço perdão por nenhum dos pecado. Voltarei, por certo, a pecar. 

Comentários

Anónimo disse…
Ides para o Inferno, com certeza...
Rebeca Cardoso Goncalves disse…
O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.
Fisiopraxis disse…
Essa beberriçe não te deve ter levado a lado nenhum a não ser a uma valente dor de cabeça e à
Iiberdade de te candidatares a uma cirrose hepatica, caso de dês a esses devaneios muitas vezes.
Quanto ao contexto bíblico do 70x7 nada tem a ver com o resultado numérico do perdão mas sim com a postura permanente e consistente do sentido do perdão. Posto isto, vai em paz e não peques mais...não vás ficar com a ideia mais baralhadas...
Pingas no Copo disse…
70X7 é um parábola para satirizar alguns actos que a enofilia sofistica gosta de diabolizar. Contudo, o enfoque refere-se ao facto de que é preciso descontrair, quebrar as regras da "arte de bem provar". Descontraidamente, sem que se pense noutras coisas mais exotéricas e que tanto cansam. É preciso ser simples e despreocupado.

Sobre o contexto bíblico da expressão, que conheço, apenas quis satirizar, mais uma vez, com o valor númerico e que independente de tudo, temos que concordar que se eventualmente 490 seria um valor elevado, para a altura ;)

Sobre o pecado, sou um pecador nato :)