Saudades

Dizem que somos um povo que vive coberto de saudades de tudo e mais alguma coisa. Na verdade, sempre irritou este lado melancólico, estupidamente pachorrento, meio saloio, meio beato, alcoviteiro e caceteiro que se cola na pele e que insiste em caracterizar-nos. Basicamente uns desgraçados.


A saudade serve, apenas, para justificar falhas, incompetências e erros que se vão cometendo ao longo de uma vida, enraizando, desta forma, a incapacidade para dar a volta, tornear a questão, sacudir o problema. Vivendo de e com a saudade, fica-se confortavelmente sossegado, num banco de uma esquina, à espera que algo aconteça, repetindo vezes sem conta para quem está ao lado: antigamente é que era bom. E aponta-se aos outros as falhas e falta de coragem que tivemos. Desta forma, ficamos livres de qualquer responsabilidade.


Choraminguices de lado, há coisas que deixam efectivamente saudade. Saudades, por exemplo, de termos sido imortais, algures no tempo. E, por que não, já agora, saudades dos verdadeiros vinhos. Dos vinhos que eram inextinguíveis. Agora, tudo parece tão efémero e tão despersonalizado, tão desinteressante, tão enganadoramente perfeito. 

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