Terras do Demo e as Serras

Três passagens, três autores. Densos na estrutura, no pensamento, na escrita. Todos intimamente ligados à montanha, às serras, às agruras do tempo. 


"A serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida. Comprazes-te em pintar-lhe as virtudes e encantos sem sombras, e não sei eu que te acoime de parcial. As tintas escuras são para o novelista e tens razão. Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto especial que não tenha algures. Nada disso. A serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência." 
Aquilino Ribeiro

"Serra!
e qualquer coisa dentro de mim se acalma...
Qualquer coisa profunda e dolorida,
Traída,
Feita de terra
e alma.

Uma paz de falcão na sua altura
A medir as fronteiras:
Sob a garra dos pés a fraga dura,
E o bicho a picar estrelas verdadeiras."
Miguel Torga

"Era a grande montanha a oriente, a sua liberdade espacial, era o bafo quente de um amor perdido, a flor original de uma alegria perdida. E então voltei para lá a minha face molhada, e tudo em mim disse adeus longamente...." 
Vergílio Ferreira


E um vinho profundamente elegante, com uma leveza indelevelmente marcante e contraditória. 

Comentários