Ao Passado

Existem momentos, na nossa vida, em que precisamos de viajar no tempo. Voltar a viver aquilo. Parte da minha vida é passada a lembrar-me do que fiz em enquanto puto, lá na terra. Aquelas férias no Dão, no Douro estão marcadas e bem marcadas na minha memória. São ao mesmo tempo os meus alicerces, as fundações da minha personalidade.
Lembro-me todos de os pequenos pormenores, de todas os momentos passados. Os cheiros, os aromas, os sons, os sabores estão registados, estão cá dentro. Uma vida que tento transmitir à minha pequena filha. Uma vida que lhe ofereço. Um testemunho meu, muito pessoal. Vocês conhecem este meu desejo.
Quinta de Saes Estágio Prolongado 2000
teve a honra de me oferecer, por breves momentos, uma viagem às minhas recordações. Uma viagem que me fez voltar a viver as brincadeiras que tinha no meio do pinhal, lá junto à ribeira, onde se sentia a brisa da caruma, das flores, dos fetos. Que aventuras! Eu e os meus amigos éramos os eleitos. Os donos daquele mundo. A nossa demanda era defender aquele canto dos ataques dos adultos, dos grandes. Tantas promessas fizemos entre nós. Todas foram quebradas. Tornámo-nos nos tais adultos contra os quais lutavámos.
No meio da tarde aparecia a minha mãe a gritar: "meninos está aqui a merenda!" Eram umas grossas fatias de pão centeio barradas de geleia ou de doce de tomate. Reconfortavam o estômago da malta. Voltavamos à brincadeira. Quem era agora o herói? Tirávamos à sorte.
Tudo o que nos envolvia era suave, delicado e misterioso. O descanso era feito a olhar para a Quinta do tio Aurélio. "Onde estariam as melhores maçãs? As melhores pêras?" Era necessário encontrar a estratégia para colher os melhores exemplares.
Na volta para casa, vínhamos calados. Passávamos pelas ruas estreitas, onde o granito era rei e senhor. Os vasos repletos de flores alinhavam-se junto às casas.
O vinho, esse fez-me companhia durante esta noite.
Nota Pessoal: 17

Comentários

Anónimo disse…
Interessante, muito interessante nota de prova. Espero que as pessoas não pensem que precisam de saudade para gostar dum vinho estruturado, com aromas a pinhal, com notas florais e a pomar. Aparecem também as frutas em compota (não gosto do termo confitado, pronto...). E um prolongada persistência no pós boca é sempre imprescindível para um muito bom vinho. Que bela história que nos foi apresentada através de um vinho!
Pingas no Copo disse…
Olá Jorge! Bem vindo a este meu canto/recanto pessoal.

O vinho para mim tem que me transmitir emoção. Deve falar comigo, confrontar-me com o que sei e com o que não sei.

Um abraço cordial
Rui Miguel

PS- É no passado que estão algumas das minhas melhores histórias.